Sobre ser professora

Láisa Rebelo
5 min readOct 17, 2021

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Lilartsy — Unplash

Eu não sei exatamente quando foi que eu comecei a querer ser professora. Acredito que foi por causa de algumas professoras e professores que me inspiram a ser como eles, ser essas pessoas que mudam a visão de mundo, que despertaram meu desejo por aprender e me mostraram como é bonito compartilhar conhecimento. Sabe aquela história de que a felicidade só é boa quando é compartilhada? Pois bem, acredito que da mesma forma é com o saber, graças aos exemplos que tive ao longo da minhas trajetória.

Afirmo sem titubear: a única forma do conhecimento impactar positivamente no mundo é quando compartilhamos com os outros. Confesso que me faz brilhar os olhos quando me chamam de Professora.

É curioso que durante a difícil fase do ensino médio, quando precisamos escolher “o que ser quando crescer”, eu passei a pensar mais no que eu iria aprender e estudar do que na profissão em si. O que me fez pensar em ser professora. Pensava assim “Já não basta o tanto que eu tive que estudar coisas que eu não gosto no Colégio, agora eu quero estudar algo que me interesse, mesmo que eu não vá ganhar muito dinheiro”. Eu olhava as grades dos cursos sem pensar muito na profissão que eu iria desempenhar a partir daquela escolha.

Isso porque no ensino médio eu passei a ter mais vontade de aprender, até então eu era uma aluna bem mediana. Não sei se foi porque eu saí do colégio católico que eu detestava, ou se os meus novos professores me inspiravam muito mais. Professores são pessoas que podem influenciar muito o futuro de muita gente. Arrisco dizer que para muitas crianças e adolescentes, os professores e professoras são os adultos que elas mais convivem, às vezes mais que os próprios pais.

Dificilmente vão encorajar alguém a “dar aula”

Quando falei sobre querer fazer bacharelado em História, uma das minhas matérias preferidas, para a a inesquecível Rossana Linck (minha professora de História no ensino médio), ela rebateu: “Mas você quer dar aula?” Com uma entonação de quem estava meio incrédula e com um quê de “não faz isso”. Desanimei, estava eu estava entre História, Geografia e cheguei a cogitar Biologia. Totalmente indecisa. O professor de redação me indicou Publicidade, ninguém falou em Design.

Entendo muito o que Rossana quis me dizer. O que faz uma pessoa decidir ser professora no Brasil? É um caminho meio arriscado mesmo. Ainda mais no nosso país, no qual a educação não é uma prioridade e que não reconhece a importância desses profissionais. Isso tudo somada a frase comum que professores ouvem “mas você só dá aula?” É preciso ter muita paixão pelo conhecimento e acreditar no poder que a educação tem para mudar cenários.

Meu pai me alertava “Estude, educação é o único bem que não podem tirar de você”. Para quem não nasce rico, como eu, a educação é a única forma de mudar a situação social. Eu faço parte da primeira geração da minha família a cursar ensino superior. Para alguns estar ali era seguir mais uma etapa do desenvolvimento escolar, no meu caso, foi uma forma de mudar estatísticas e a minha vida.

Bem, eu não cursei História e gostei do que iria estudar cursando Design (só porque estava na área de humanas e artes). Me encantei pela grade e por tudo que a Universidade e a UFPE me trouxe, muito mais do que uma profissão, me tornei uma cidadã ainda mais questionadora e com desejo de mudar o mundo por meio do Design.

No primeiro ano da graduação me apaixonei pelo Design, suas possibilidades, pela pesquisa e gostaria de ter dito para Rossana que sim, apesar de tudo, eu quis dar aula e assim o fiz e espero voltar a fazer.

Para ensinar tem que saber estudar

Eu demorei a aprender a estudar, só aprendi a estudar mesmo na Universidade. Porque estudar é difícil, requer dedicação, esforço, concentração, abdicação…mas o conhecimento é uma delícia! Estudar aquilo que a gente gosta muda essa experiência para melhor, com alguém apaixonado pelo que faz, melhor ainda!

E foi assim, eu não queria só aprender eu queria compartilhar com as pessoas o que eu estava aprendendo, porque tudo me parecia maravilhoso. O processo foi orgânico, eu achava incrível a capacidade dos(as) professores(as) articularem tantas ideias, citar autores(as) e ler textos difíceis. Me inspiraram cada vez mais a seguir esses passos. Nesse processo, “estudar na universidade federal” já foi romper com as estatísticas, fazer um mestrado foi uma baita ousadia. E assim foi, eu quero continuar estudando e incentivando outras pessoas a também buscarem conhecimento.

Anos se passaram, muita coisa aconteceu e comecei a “dar aulas” particulares de inglês enquanto cursava o mestrado. Além dos estágios docência na Universidade, essa foi uma das minhas principais experiência lecionando. Por mais que eu quisesse ser professora, acreditava que só poderia depois de uma formação, tipo o mestrado. Foi nessa experiência, sem precisar de nenhuma instituição me validando, só os(as) alunos(as) mesmo, que eu descobri o quanto eu amo transmitir conhecimento.

Em 2021, eu tive a oportunidade de ser professora voluntária na UnB, na Universidade onde eu me transformei e me tornei mestra. Desenvolvi a minha própria disciplina e pude estar do outro lado da sala, amei.

Uma vez, quando compartilhei meu desejo em dar aulas, me disseram que “quem não sabe fazer ensina”, me senti péssima. Hoje, posso afirmar que essa frase é ridícula e não faz o menor sentido. Porque quem sabe fazer e ama o que faz compartilha ensinando.

Obrigada, mestres!

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Fui pesquisar a relação das maçãs com professores, encontrei algumas explicações que falavam sobre dar maçãs como agradecimento e outras falavam sobre a relação da história bíblica de Adão e Eva e a ideia da da maçã como um fruto proibido. Gostei mais desse significado, afinal, se todos tivéssemos acesso ao poder do conhecimento, poderíamos mudar o mundo.

*Minha motivação para aprender inglês foi ridícula, mas funcionou e os anos de esforço valeram à pena. Eu decidi estudar inglês com 10 anos, porque queria conseguir falar com os Hanson, e não é que eu consegui falar com eles! Tudo bem, só pedi um autógrafo (no braço, porque estava sem papel), “Please, sign on my arm!” Mas além de todo o nervosismo do momento, falar inglês saiu naturalmente.

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Láisa Rebelo

UX Researcher @GrupoBoticário | Mestre em Design (UnB) - Design, Sociedade e Cultura | UX Design | Consumption | Anthropocene | Utopia | Menstruation