Design do dia a dia, um clássico necessário

Láisa Rebelo
3 min readAug 22, 2023

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Meu livrinho querido — Foto pessoal

Quando me pedem uma dica de leitura para começar a estudar UX Design eu indico esse livro e não sou a única a recomendá-lo. Design dia a dia é um livro introdutório para pensar em projetos e não necessariamente em Design. Abro um parêntese aqui para falar sobre a palavra DESIGN, que é um verbo em inglês “to design” significa projetar. Portanto, User Experience Design é sobre Projetar Experiências de Usuários.

Antes de começar a leitura é importante saber que esse livro foi publicado no final dos anos 1980, e muitas das referências usadas pelo autor são de produtos físicos, não espere referências sobre aplicativos e produtos digitais (não sei se na nova edição ele aborda esses exemplos). Pode até parecer um pouco datado, mas ainda o enxergo como uma das principais referências para entender o que é experiência da pessoa usuária de forma mais profunda, para além dos produtos digitais e a partir da área de estudo e formação do autor: cientista cognitivo.

É importante lembrar que Design vai muito além do UX Design. Basta olhar para os objetos ao seu redor: a cadeira, a mesa, a sua roupa, seu sapato, sua bolsa…tudo isso foi projetado, tudo isso é Design.

Quando Norman publicou Design para o Dia a Dia, o design de produto era sobre objetos físicos utilizados no cotidiano, pouco se falava em sistemas operacionais, que chamamos de produtos digitais (o curso de Design no Brasil se chamava Desenho Industrial). Nesse livro Norman vai falar sobre objetos como: chaleiras, fax, telefones, automóveis, entre outras coisas que permeavam o cotidiano naquela época. É quase uma viagem no tempo, porque muitos desses produtos que ele cita já não fazem mais parte do nosso cotidiano, enquanto outros sofreram grandes transformações, e tornaram-se mais fáceis, seguros ou mais complexos, como por exemplo: os telefones.

Isso nos revela que a essência de “fazer design” não muda muito. Mesmo que os objetos sofram transformações ao longo do tempo e outros se tornem obsoletos, muitas das necessidades humanas permanecem. Friso esse ponto: Design é sobre projetar pensando nas necessidades, nas pessoas e nos comportamentos. E tudo isso muda.

Talvez não nos deslocamos, comunicamos e nem nos alimentamos mais da mesma forma como fazíamos há algumas décadas atrás. Mas, essas necessidades permanecem, são inerentes à sobrevivência humana. E, para atendê-las, precisamos de artefatos, de coisas, produtos, serviços e afins.

Por isso, nossos princípios como Designers ainda são os mesmos de décadas atrás: buscar soluções para atender às necessidades das pessoas. Sem esquecer que ainda é preciso desempenhar o difícil papel de advogar por essas pessoas usuárias nos projetos enquanto atende e negocia os desejos dos stakeholders.

Esse livro é para ser lido, relido, marcado e estudado. Tenha como um material de consulta para iniciar projetos, para estimular uma visão mais analítica e crítica. Você poderá usar também para justificar suas tomadas de decisões diante dos seu time e gestores.

Por não ser uma leitura essencialmente linear, o último capítulo muitas vezes é desprezado. Mas, tem um dos trechos que julgo muito importante para que possamos exercer a nossa atividade como designers para além da atuação como funcionários de uma fábrica:

"O fato de que o design afeta a sociedade não é uma novidade para os designers. Muitos levam realmente a sério as implicações de seu trabalho, mas a manipulação consciente da sociedade tem graves aspectos, dentre os quais é importante o fato de que nem todo mundo está de acordo em relação às metas apropriadas. O design, portanto, assume uma importância política; na verdade, as filosofias de design variam de maneira importante nos diferentes sistemas políticos (…) Nós somos cercados por objetos de desejo, não por objetos de uso" NORMAN, 2002. P. 252

Boa leitura e sejam projetistas críticos 🗣️

Fim 🖤

Uma curiosidade 💖

Eu tenho uma relação emocional com esse livro, porque foi um dos primeiros que eu adquiri durante a graduação em Design e na época eu nem conhecia o termo UX Design, talvez nem existisse ainda. Passei por um perrengue financeiro e vendi alguns livros, esse foi um dos que me desfiz. Ficou um tempão indisponível, até que surgiu a nova edição. Mas, eu queria essa capa de 2002, e por sorte, consegui na Estante Virtual essa edição, que tem o carimbo da antiga dona, que não conheço, a Ellen Müller.

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Láisa Rebelo

UX Researcher @GrupoBoticário | Mestre em Design (UnB) - Design, Sociedade e Cultura | UX Design | Consumption | Anthropocene | Utopia | Menstruation